INTRODUÇÃO
Organizada pelo Museu de Arte de Macau (MAM) do Instituto Cultural do Governo da RAEM, Acima de Zobeida foi apresentada na 60a Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia no ano passado. Trata-se de uma instalação de larga escala, com imagens digitais, de uma jovem dupla emergente, o artista Wong Weng Chong e a curadora Chang Chan. A exposição, que foi aclamada pelo público e críticos de arte internacionais, cumprindo com sucesso a missão de “mostrar Macau ao mundo”, regressa agora a Macau permitindo ao público da RAEM vivenciar, num contexto local, este notável trabalho que explora questões globais. Residentes e turistas poderão, assim, apreciar criações contemporâneas de jovens artistas de Macau e perspectivar o futuro desenvolvimento das artes plásticas na cidade.
Uma Experiência Imersiva de Realidades Virtuais
A exposição inspira-se no livro As Cidades Invisíveis, do colosso literário italiano Italo Calvino, em particular no símbolo de desejo e desorientação que Zobeida constitui naquela obra ficcional pós-moderna. Wong Weng Cheong combina a sua própria experiência, o viver em Macau e estudar no estrangeiro, com ansiedades pessoais para criar uma cidade ficcional chamada Zobeida. Nela, grotescas criaturas herbívoras de pernas alongadas, vagueiam pelas ruínas desoladas da cidade, simbolizando o desequilíbrio entre a civilização humana e as suas mutações.
Esta exposição dissolve as fronteiras entre o público e a obra artística – câmaras de vigilância escondidas captam a presença dos elementos do público em tempo real para os projectar numa cena apocalíptica. Os visitantes passam de “observadores” a “observados”. Através da deslocação de identidade e alienação espacial, a exposição esbate as linhas que separam realidade e ficção, confrontando ansiedades sociais contemporâneas sobre a existência e a fluidez identitária. A exposição sugere uma reflexão sobre a identidade do “estrangeiro” num contexto globalizado, ecoando o tema central da Bienal de Veneza do ano passado: “Estrangeiros Por Toda a Parte”. Enquanto ponto de intersecção cultural durante séculos, Macau oferece um profundo comentário sobre este tema.
Questionar a Identidade Num Contexto Distópico
Em Acima de Zobeida, Wong mergulha profundamente numa auto-análise enquanto explora Macau – um local historicamente construído e desenvolvido por “estrangeiros”. Para reconstruir e examinar a identidade do território, o artista adopta uma perspectiva mais objectiva e não-pessoal. Na exposição, os traços da cidade transformam-se numa narrativa de globalização, urgindo os visitantes a reavaliar a identidade multifacetada de Macau e a reflectir sobre as crises existenciais da sociedade contemporânea.
A exposição convida o público para um espaço impossível de definir com clareza, permitindo-lhe experienciar a presença familiar, mas estranha, de um estrangeiro num mundo ficcional em que realidade e ilusão se confundem.