Jornal Macao Daily News
O Museu de Arte de Macau (MAM) tem vindo a apresentar exposições de pintura e caligrafia chinesa das dinastias Ming e Qing todos os Outonos desde 2004, numa sequência de obras de respeitados mestres e escolas. Os artistas apresentados vão desde Bada Shanren, Shitao e Dong Qichang, os pintores dos Lealistas Ming, à Escola de Pintura de Jinling e aos “Quatro Wang do Início do Período Qing”. As instituições museológicas do Interior da China têm apoiado calorosamente estas exposições muito antecipadas. Por outro lado, o MAM tem apresentado também uma série de simpósios que têm atraído a atenção e obtido reconhecimento dos especialistas e do público dentro e fora de Macau.
Yun Shouping, de seu cognome Nantian, fundou a Escola de Pintura de Changzhou e foi um dos “Seis Mestres do Início do Período Qing”. O artista foi também aclamado como o melhor dos “Seis Letrados de Piling” (hoje conhecida por Changzhou). Yun possuía uma notável mestria da cor, pontilhado e mancha, sendo realista sem estar preso a formas. Com a sua pincelada delicada, as suas representações de flores são limpas, refinadas e refrescantes, transmitindo um sentido natural do espírito. Yun foi elogiado por elevar a pintura chinesa de flores a um novo nível entre o final da dinastia Ming e o início da dinastia Qing, ficando famoso como o melhor da sua geração. Agora, o MAM apresenta Yun Shouping: Pinturas e Caligrafia do Museu do Palácio e do Museu de Xangai, que nos traz preciosas obras de Nantian e dos seus artistas companheiros nas colecções de ambos os museus.
Nantian abraçou o minimalismo na sua arte ao afirmar que a simplicidade é o ideal mais alto. Ao aplicar a simplicidade através da eliminação de todos os pormenores excessivos, como que limpando a poeira, Yun deixa apenas os aspectos únicos do tema, isolando-o. O artista descreveu esta ideia comparando-a a uma dama cuja beleza se reconhece pela sua modéstia e elegância, não pela sua maquilhagem. Yun advogava a expressão metafórica na sua pintura de paisagem, o que é claro em expressões como “captando a vitalidade da Primavera, o ardor do Verão, o esplendor do Outono e a serenidade do Inverno”.
Tal como explicou, “As paisagens das quatro estações revelam-nos a sua beleza, mas só nós podemos discorrer sobre o seu encanto. Por exemplo, o Outono pode entristecer as pessoas e inspirar a contemplação. Para o exprimir em imagens, o pintor deve entender essa melancolia e nostalgia ao representar um cenário outonal. Caso contrário, seria melhor simplesmente escutar o cantar das cigarras e grilos no Inverno”.
Para além de pintar, Yun notabilizou-se como calígrafo e a sua poesia era elegante e única. A certa altura escreveu um poema sobre o talento que não é reconhecido: “A quem mostrarás o teu talento? Eu mostrei o meu tocando hu qin [instrumento de cordas] numa casa de chá. Quando tocava canções sobre heróis que o destino cerceou, cantava frente aos meus convidados Ba Ting Qiu [que refere uma peça onde um letrado que falhou o exame imperial e lamenta a sua sorte é comparado ao senhor da guerra Xiang Yu]”. Yun Shouping não se inscreveu no exame imperial e era indiferente a fama e fortuna. Em vez de servir os ricos ou os poderosos, ganhou a vida a vender pinturas. Com as suas virtudes de letrado, deixou a sua marca na história.
Esta exposição permite ao público descobrir pinturas e caligrafias de Yun Shouping, membros da sua família e artistas companheiros nas colecções do Museu do Palácio e do Museu de Xangai. O jornal Macao Daily News tem o prazer de apoiar a organização desta exposição, à qual desejamos o maior sucesso.
Lok Po
Director do Jornal Macao Daily News