Um Encontro de Tesouros

Exposição de Arte do 70.º Aniversário da Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau

Prefácio

A Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau é uma das mais representativas e influentes organizações artísticas da cidade. Com um rico historial regional e cultural, a Associação é um símbolo da arte tradicional chinesa na Região Administrativa Especial de Macau, dando corpo a uma ética inclusiva e unificada. 

Em 2013, o Museu de Arte de Macau e a Yu Un juntaram-se para apresentar Memórias do Papel de Arroz: Uma Retrospectiva da Obra de Chui Tak Kei. Uma década depois, aqui está Um Encontro de Tesouros: Exposição de Arte do 70.º Aniversário da Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau. 

Memórias do Papel de Arroz apresentou um verdadeiro catálogo da obra de Chui Tak Kei, fundador da Associação Yu Un e senhor de uma refinada estética e trabalho de pincel, que elevaram a qualidade imagética dos seus trabalhos e a sua beleza. O que mais impressiona na sua arte, e na dos outros membros, é terem trabalhado humildemente em conjunto, frequentemente apoiando-se uns aos outros. 

Um Encontro de Tesouros vai um passo mais à frente do que a sua antecessora de 2013, trazendo-nos obras de sete mestres: Chui Tak Kei, o artista líder, Deng Fen, Luo Shuzhong, Situ Qi, Lin Jin, U Kuan Wai e Gan 

 I. Um novo papel no seio das culturas regionais 
Hong Kong e Macau localizam-se no sul da China. Durante a dinastia Ming, a Prefeitura de Guangzhou (também conhecida por Guangfu) foi criada com duas divisões administrativas: o Distrito de Xin’an e o Distrito de Xiangshan. Dados os residentes serem maioritariamente nativos de Guangdong, as pessoas de Guangzhou, Hong Kong e Macau falam todas a mesma língua: o cantonês. Partilham também costumes semelhantes com raízes na cultura de Guangfu, apesar de existirem claras diferenças regionais. Macau tem laços próximos com “Sze Yup (Siyi)”, o que se refere aos quatro distritos históricos da prefeitura de Jiangmen: Xinhui, Taishan, Enping e Kaiping. E também tem laços próximos com “Nam Pun Shun (Nanpanshun)”, o que se refere às três prefeituras de Nanhai, Panyu e Shunde. Por outro lado, Macau é uma cidade rica de referências culturais e intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente. Estas influências e trocas moldaram a cidade, tornando-a única e emprestando-lhe um carácter inclusivo. A Associação Yu Un, com o seu grande afecto pela pátria, tem vindo a promover a relação entre as culturas de Macau e Guangfu há muitos anos. 

Deng Fen e Luo Shuzhong eram nativos de Nanhai. Viveram em Guangzhou nos seus primeiros anos antes de visitarem muitos lugares fora da sua cidade natal. Mais tarde, viveram em Hong Kong e Macau. Situ Qi era de Kaiping e mudou-se para Macau, tendo feito inúmeras amizades através da arte e ensinando inúmeros estudantes do ensino secundário. Apesar de ter vivido no estrangeiro nos seus últimos anos, regressava sempre à sua terra natal. 

Chui Tak Kei, Lin Jin e U Kuan Wai nasceram em Macau, onde passaram todas as suas vidas. Xinhui era a casa ancestral de Chui e Lin e a de U era Taishan. Os três artistas aperfeiçoaram os seus estudos na China. Depois de formados, regressaram a Macau, contribuindo tremendamente para a cidade, apoiando a sua cultura e sistema educativo e incrementando as trocas locais e internacionais. Elegante e refinado, Chui foi um influente socialite na cidade durante várias décadas. Foi Presidente da Associação de Conterrâneos de Xinhui de Macau e doava regularmente dinheiro ao seu lar ancestral. Dedicava-se ainda a todo um leque de cultura, educação, saúde e caridade. Ele é um magnífico exemplo de amor e devoção à pátria. As doações de Chui ajudaram a construir a Academia de Pintura de Gangzhou em Xinhui – que no passado se chamara Gangzhou – uma escola calorosamente recebida pelos seus pares. 

Até hoje, as “Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” referem que Macau se está a posicionar como uma “Base de Intercâmbio e Cooperação para a Promoção da Coexistência Multicultural, com Predominância da Cultura Chinesa”. Olhando para a sua longa história, não será que o estatuto histórico e cultural único de Macau afirmado e não tornará isso ainda mais importante o trabalho destes artistas veteranos? Antes do Retorno de Macau à Pátria, a Associação Yu Un e seus membros já tinham aderido à noção da “Predominância da Cultura Chinesa” nesta cidade. A Yu Un tem-se dedicado ao desenvolvimento geral do país e promoção do seu etos cultural há muitos anos. Mas estes artistas não foram profetas. O que fizeram foi desenvolver um forte sentido de patriotismo e reconhecer a importância da cultura chinesa. Por isso, o reconhecimento cultural é fundamental para a Associação. 

Estes artistas veteranos aceitaram pesadas responsabilidades e conseguiram muito em Macau. Hoje, todos aceitamos o dever de construir em conjunto uma Grande Baía humanista e descobrir um novo papel cultural para Macau. Há um poema chinês em que se pode ler: “Retratar o carácter e o espírito de um indivíduo é a parte mais difícil da pintura chinesa”. Assim, os talentos artísticos locais devem trabalhar com diligência para pintar a paisagem cultural de Macau na fervilhante era em que vivemos.  

II. Inclusividade e unidade 
Durante a Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa, o pintor Gao Jianfu refugiou-se em Macau. Mais tarde, criou a Academia de Pintura Chunshui (“Primavera Adormecida”) no Templo de Kun Iam Tong ali ensinando inúmeros estudantes. Entre os mais talentosos estava Situ Qi. Gao concentrou-se em esboços e defendia a inovação pictórica, assim como a ideia de que uma mistura eclética de estilos pictóricos chineses e ocidentais devia ser abraçada dado reunir técnicas antigas e modernas. Em contraste, o pintor Deng Fen era membro da Associação de Estudos de Pintura Chinesa criada em Guangdong, cuja abordagem diferia do ecleticismo da escola de Gao. A Associação aderia às tradições da pintura chinesa criando, sobretudo, uma pintura erudita. Esses diálogos e colisões entre perspectivas tradicionais e modernas conduziram ao desenvolvimento diversificado da cultura pictórica moderna de Guangdong. O desabrochar duma flor não é tão glorioso como todo uma mata luxuriante. Os veteranos artistas da Associação Yu Un, incluindo Deng Fen e Situ Qi, demonstraram esse ideal nas suas pinturas colaborativas. 

Ao longo das últimas quatro décadas, os membros da Yu Un viajaram pelo mundo e muitos mestres e figuras de vulto vieram a Macau. A Associação nunca se pronunciou sobre outras escolas de arte. Em vez disso, absorve abertamente artistas de todas as disciplinas e acolhe criativos vindo de perspectivas diferentes. Este ambiente inclusivo conduz à harmonia, unidade e prosperidade dos seus membros, transmitindo e promovendo as artes da caligrafia e da pintura. Como tal, a Associação cresceu substancialmente e alberga diversas práticas e ideias artísticas. Estas são todas excelentes tradições que merecem ser promovidas. 

Os membros principais da Yu Un, o Presidente Honorário Chui Sai Cheong, o Presidente José Chui Sai Peng, o Vice-Presidente Executivo Sio Chun Iun e o Presidente da Direcção Dixon Lei Tak Seng, dedicaram-se à comemoração do septuagésimo aniversário da Associação. O título da exposição (em chinês) é “Um Encontro de Tesouros em Haojing” [sendo que Haojing se refere a Macau]. 

Para recordar a dedicação destes veteranos artistas à pintura, gostaria de os homenagear aqui com uma alusão ao Rio Hao no capítulo “Águas de Outono” do clássico taoista chinês Zhuangzi: “Os filósofos Zhuangzi e Huizi estão a atravessar o Rio Hao. Zhuangzi repara que ‘as carpas nadam livremente, pois é essa a felicidade dos peixes’. Huizi diz ‘mas você não é um peixe, como então pode saber que estão felizes?’ Zhuangzi replica, ‘desde que você não é eu, como sabe que eu não sei que os peixes estão felizes?’” 

Após algum debate, Zhuangzi conclui, “Descobri a minha resposta [na ponte] sobre o Rio Hao”. As gerações posteriores usam com frequência a expressão “sobre o Rio Hao” como metáfora para um lugar onde descobrem um entendimento diferente de um dado tema e, ao mesmo tempo, isso lhes proporciona prazer. Ou seja, que entendimento obtemos em Haojing? O que digo aos veteranos da Yu Un, com os seus feitos artísticos e culturais é: “Descobri que Haojing é esse lugar sobre o Rio Hao”. Esta celebração literária e artística, este “encontro”, traz-nos notável mestria artística e trabalho de pincel, numa mostra de talento que é verdadeiramente soberba. 

Passaram sete décadas desde a fundação da Associação Yu Un. Herdeiros do passado, seguiremos as pegadas dos nossos antecessores para inspirar gerações futuras. E devemos trabalhar em conjunto para aproveitar as nossas oportunidades o mais possível no futuro.

 Chan Hou Seng 
Conselheiro Académico da Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau

Piso 4 do Museu de Arte de Macau

Data de Abertura:
2023/05/19 18:30
Duração:
2023/05/20 - 2023/07/30